Entrevista: Inseto Social

Segue neste post a entrevista breve que fiz com Flamarion Rocha (voz e guitarra) e saiu no fanzine No Make Up Tips número #3.

”Quem nunca ouviu falar de Inseto Social? Se não ouviu, de Santa Maria que não é. Impossível morar na Boca do Monte e não conhecer algum som da banda que ficou famosa por ter ido a pé até Porto Alegre para tocar no Planeta Atlântida (e conseguiram!) e  que faz o pessoal pogar muito até nos dias de hoje na catacumba do DCE ao som do Hardcore Tio Bilia. Até eu que morava em Santa Rosa lá por 2004 recebi uma fitinha cassete com sons dos caras, adorava “5 pila” e “Flores para os mortos”.Gabriela Cleveston Gelain”

Entrevista: Inseto Social

1)      Que história é essa de que a Inseto Social teria feito seu primeiro show no lançamento de um fanzine? Que fanzine era este?

Flamarion: Era “Dalí fanzine”, o nome do zine. Dalí de Salvador Dalí, né.  Era um zine que devia estar no terceiro número e era feito por um colega meu, o Mateus, do tempo de escola do segundo grau. Eles iam fazer uma festa de lançamento do fanzine com duas ou três bandas: a TSF (Tijolo Seis Furos) e a Floricultura (era uma banda meio experimental,de Santa Maria). Na época, eram bandas que estavam tocando na cidade há mais tempo. A gente nunca tinha tocado e os caras já tinham uma estrada, então pensei em intimar o cara dono da festa para a gente tocar. Ele aceitou, a gente tocou, então foi o nosso primeiro show: no lançamento do fanzine dele, isso em 1998. O local era ali perto do lugar onde hoje é a Ballare.

2)      De onde surgiu o nome Inseto Social?

Flamarion: Na verdade tem sim um motivo. O nome da banda é o seguinte, foi de uma aula de biologia. Insetos sociais são os insetos que vivem em sociedade, tipo formiga, abelha e tal. Então, a idéia veio da música Inseto Social que eu escrevi basicamente sobre solidão, pensando na questão do inseto social como um inseto em sociedade, mas pensando ao mesmo tempo na biologia, os insetos que formam uma comunidade. Pra mim,o nome dava duas idéias: ao mesmo tempo que dava uma idéia de união, de comunidade mesmo, o inseto social pode ser alguém excluído da sociedade. Pensei que esse nome era legal para fazer uma música e depois veio a idéia de ser o nome da banda.

3)      Quais as influências de vocês? Qual a influência do punk no som de vocês?

Flamarion: O que a gente mais ouvia mesmo eram as bandas dos anos 90, do grunge, Alice in Chains, Soundgarden, Pearl Jam, Nirvana. Não sei se é por causa do punk rock, independente de qualquer coisa, as nossas letras vêm de uma vontade nossa mesmo de expressar isso. A gente ouve de tudo um pouco-“punkrock psicodelia hardcore e tio bilia”. Na verdade quem escutava mais punk rock era eu e o Alemão, as bandas de 77.

4)      Qual a diferença que tu percebe em nossa cidade, em termos de shows e punk/hardcore, de 1998 para 2011?

Flamarion: A diferença? São duas diferenças básicas: como tu falou, antigamente tinha mais bandas de punk/hardcore em nossa cidade. A gente, a TSF, a Stress, a Tarja Preta, The Krusts…uma infinidade de bandas,se for comparar com hoje,nos últimos 5 ou 4 anos pra cá destas bandas HC/punkrock que surgiram em Santa Maria não sei se chega a 6 contando nos dedos. Isso é uma diferença, o número realmente diminui. O porquê, eu não sei.  A questão da galera ir em show, uma coisa que diferenciou bastante e mudou é essa questão da internet, tem tudo a ver, de alguma maneira.

5)      Então, o que tu acha dos tempos de internet em relação aos shows, bandas e afins (a influência dela)?

Flamarion: Eu acho que essa questão é bem contraditória, tem um lado bom e um lado muito ruim ao mesmo tempo, mas na questão de Santa Maria, como não tinha nada, internet nem nada,parece que quando tinha um show a galera tinha mais vontade, mais sangue para ir aos shows, porque era ao vivo ou não era. Ou tu via as bandas ou tu não via. Hoje com a questão do youtube, o cara tá sempre vendo milhões de bandas e sendo bombardeado por um monte de coisas. Talvez a galera não se motive agora tanto a ver, porque eu peguei esse lance (como também sou parte do público) de se deslocar para ver um show, tu tinha a fitinha cassete e ouvia a banda. Hoje em dia, com tanta informação parece que a galera fica mais vidrada ali, olha ali mesmo, no youtube, na verdade teria que perguntar para essa gurizada. Eu acho que influencia no sentido de tornar a galera mais comodista, é isso. Mas para divulgar a banda, eu vejo como um lado positivo, é o fato de poder chegar a várias pessoas rapidamente, em longas distâncias.

6)      Sobre as letras: Por que “Peixes voando em direção ao aquário”?

Flamarion: É pra dar uma letra meio melancólica, fui que escrevi, não estava em uma situação muito boa, é meio desesperançosa, escrevi por algo pessoal. As letras mais irreverentes é piada, as políticas é uma coisa mais ampla, e aí tem a questão das músicas mais introspectivas que é quando a gente fala sobre algo que viveu. Acho que é por isso que o pessoal curte, não é só de protesto, ou só engraçada, tem de tudo. A gente é assim, ninguém é o tempo inteiro preocupado ou sempre dando risada de tudo, tem dias e dias. Não nos consideramos uma banda radical.

7)      Por que a inseto parou em 2005?

Flamarion: É a mesma coisa que tu me falou basicamente antes sobre os fanzines, que tu entrou na faculdade tarde, ficava escrevendo carta, lendo zine… é isso. Mesma coisa a gente que tinha a banda. Na verdade a gente queria viver da música, fazer disco e viver disso. A gente estava naquela luta, fazia uns sete anos de banda já, quem tem banda sabe como é, a gente gasta um monte, viaja, banca uma gasolina, lucro quase nenhum,a gente faz porque gosta. Estávamos com vintee  tantos anos de idade,a gente não conseguia viver da banda nem nada, então precisávamos sobreviver. Precisávamos nos virar, fomos fazer outras coisas e não conseguimos naquele momento conciliar a banda com outras atividades.

8)      Vocês já tocaram para dez mil pessoas. Conte sobre essa experiência de tocar no mesmo palco do Charlie Brown e Barão Vermelho já no terceiro show da Inseto Social!

Bei, a gente achou que era os caras,né. (risos). A gente achou que seilá,era um filme. Tudo bem que a gente começou,em termos de banda,até meio tarde, já tínhamos uns vinte anos de idade na cara, mas na nossa primeira demo que tinha 3 sons (entre eles, Hardcore Tio Bilia), a gente enviou para este festival ( Skol Rock) e já foi chamado. O festival pedia release histórico da banda, pedia foto, o cd/a fita e tal, tudo certinho. A gente pegou aquela fita cassete e eu só escrevi à caneta assim “Inseto Social”, nem tinha capa, não mandei foto, histórico, nada. Só coloquei meu nome e telefone. Os caras ligaram e era um festival que selecionava só oito bandas de quatrocentas e tantas, e escolheram a gente na primeira gravação,foi algo inesperado. Então,a gente fez primeiro show do fanzine, o segundo de uma festa da Biologia da UFSM na boate do DCE e o terceiro foi esse show, para 10 mil pessoas, com cobertura da MTV. Tudo muito rápido,a gente ficou deslumbrado. Sem experiência nenhuma. A gente ficou tão nervoso que ficamos tomando ceva do frizzer lá no festival e a nossa apresentação não foi muito boa. Quem ganhava esse festival abria para o Iron Maiden. A gente ficou com nota 10 em quesito de música e letra mas a apresentação ganhou uma nota 4, 5,  a nota foi muito ruim, a gente tava duro de trago.

9)      Eu quero saber uma coisa: aquela música Jenny dorme suja, é verdade que era uma banda punk feminina de Santa Maria? “Jenny dorme suja,eu sei! E ela nunca vai desistir… / Jenny revolucionária, incendiária.”

Flamarion: Existia uma banda sim, é verdade. Não fui eu que criei esse nome da música, não fui eu quem criou esse título,eu tirei do nome delas. Eu participava dos shows, quando ainda tinha, oito, sete bandas nos festivais, elas tocavam. Na realidade, a banda eram duas meninas e um cara na guitarra. Era uma guria na batera, a Cláudia. A Letícia era baixista e cantava. Tinha uma menina na guitarra,mas aí ela não durou muito tempo na banda e entrou o irmão da Letícia. Era legal a banda, era punk umdoistrêsquatro. Haha. Tocavam também cover do Pixies, achava massa. A gente acabou fazendo amizade, elas moravam aqui fora na UFSM, eram metidas no movimento estudantil, no DCE, sempre estavam no meio. Conversando um dia com elas, pensei “BA, vou fazer um fazer um som pras gurias”. Eu tava massa o nome,achava que soava bem para uma música. Pensei em inventar uma personagem chamada Jenny, pensei nelas mesmo, não que elas dormissem sujas né! (risos). Mais por elas serem bem politizadas e envolvidas com o movimento estudantil, só que acabei inventando uma personagem na época da ditadura, pra falar um pouco disso que eu nunca tinha falado em um som. Eu fiz a letra e dei pra elas, elas que tocavam, a gente não tocava esse som na época. Elas ganharam o primeiro Universo Pop com essa música. Elas pararam de tocar, a banda terminou, aí como a gente gostava da música a gente começou a tocar e gravamos.

10)  E o documentário da Inseto Social, quando sai?

Flamarion: Depende do Rafael Miranda, da Aspartame Salgadinho (produtora). Vai ser toda a história da banda. O pessoal da Aspartame estão iniciando os trabalhos, ele toca no Sangue da Pedra. Ele que puxou a idéia mas eu ajudo bastante,é claro,mas ele que tá fazendo. A idéia é para 2012,só não sei se vai ser no primeiro ou no segundo semestre ainda.

11)  Quem faz as artes dos álbuns de vocês?

O Cássio Pires, um amigo meu, fez uma das capas. Ele estudou artes na UFSM. A gente tocou um tempo juntos em outra banda, Umagruma. Fizemos alguns shows ano passado e retrasado,mas acabou já. A gente se conhece há muito tempo, ele tinha vários quadros na casa dele e pedi pra ele se dava para usar no cd,ele permitiu.

12)  O espaço é teu,fala o que quiser aí.

Eu acho que o negócio é a gente continuar firme no que a gente acredita, independente dos revezes que a gente tem. No meu caso com a banda e o teu com o fanzine,a gente faz realmente porque gosta, ama o que faz, a maior motivação é isso, fazer por amor e fazer bem feito. O resto não importa muito. O importante é fazer bem feito e se tu sente que a galera tá curtindo, melhor ainda.

www.myspace.com/inseto_social

”INSETO SOCIAL

Flamarion Rocha (voz e guitarra)
Rogério Fenalti (bateria)
Giovani Kovalczyk (baixo)
Vitor Cezar (guitarra).

”Inseto Social é uma banda de rock alternativo formada em jan de 98 na cidade de Santa Maria/RS . Lançou um cd homônimo independente em 2000 e um EP em 2002 chamado “Ed Wood nunca ganhou um Oscar”. Em jan de 2000 ficou conhecida em todo o estado como a banda que foi a pé de Santa Maria a Porto Alegre (270 km) em 11 dias e tocou num dos palcos alternativos do Planeta Atlântida. Depois de tocar em vários festivais pelo RS, em 2005 a banda deu uma parada, tocando eventualmente, destaque para uma excursão até a Argentina em 2007 para tocar no Poçadas Rock, na cidade de Poçadas.
Em 2010 retornou a ativa, com a mesma energia e com o mesmo amor pela música. músicas novas em breve estarão rolando pela web.
PAZ, HONESTIDADE E DIVERSÃO”

Sobre gabicg

zinester, journalist, researcher and music lover.
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